De mãos atadas: “Estamos ilhados aqui e será pior.
É preciso ver o que Guarulhos ganha com o Rodoanel”.
Presidente da Apeg fala sobre Plano Diretor Regional
Do Folha Metropolitana
Por Lucas Pimenta
Proprietário de um pool de quatro empresas, entre elas, a Água Serra de Cantareira, Glauco Bellezzo, 55 anos, é também o presidente da Associação do Polo Empresarial de Guarulhos (Apeg).
A associação, que tem mais de 20 anos e reúne cerca de 50 empresas das regiões da Avenida Julia Gaiolli à Rua Landri Salles, no Bonsucesso, busca melhorias para a área, que, segundo Bellezzo, está esquecida por conta do “engessamento da municipalidade”.
Avô de quatro netos e pai de quatro filhos, que hoje tomam conta de suas empresas, Belezzo, que é conhecido pela simpatia e ‘boa praça’, concedeu entrevista à Folha Metropolitana e falou com contundência sobre a criação de um Plano Diretor Regional.
Folha Metropolitana – Qual a atuação da Apeg?
Glauco Bellezzo – A Apeg é uma associação de mais de 20 anos, que tinha outro nome e passou quase dez anos no ostracismo mesmo. Eram mais pedidos dos políticos para a gente do que o contrário. A situação foi melhorando, preferimos nós mesmos nos ajudar, cuidarmos nós mesmos da própria casa e ajudar nessa união desses empresários, que é o principal motivo da Apeg existir. Quando tomei posse, em maio do ano passado, nossa primeira ação foi a revitalização do Córrego Ana Mendes, e o tornamos piscoso novamente. Adotamos também áreas verdes da região e nossa primeira meta externa cumprida foi desemperrar o projeto do Senai, em Bonsucesso. Tínhamos quase R$ 50 milhões para investir no projeto e ele, por estar parado, estava indo para o Oeste Paulista. Nós, junto com as outras associações e o Ciesp, corremos para que isso andasse ou, hoje, não teríamos a possibilidade de ter essa escola dentro de anos.
FM – Essa escola será de qual importância para indústria e para o Polo?
Bellezzo – Hoje, o nosso maior problema na indústria é a falta de mão de obra qualificada. Com a educação pública que temos hoje, os alunos, além de não aprenderem, não aprendem a aprender. Por isso, está cada vez mais difícil você ensinar alguém. Por isso essa escola será de extrema importância. Queremos esse Senai diferente do outro, com cursos mais voltados para a tecnologia, e isso será importante para a cidade e para a indústria. Aliás, ultimamente, estamos participando de todas as discussões importantes da cidade.
FM – Quais são os principais pleitos da Apeg que ainda faltam ser feitos?
Bellezzo – Não queremos grandes coisas. Só precisamos de um Plano Diretor Regional. A lei já foi aprovada em 2004 e seria fundamental para nossa região e muitas obras. Hoje, se você for construir um empreendimento no Bela Vista ou Taboão, por exemplo, não há mais espaços. De Cumbica para frente, toda a Zona Urbana está tomada. Única área livre está aqui. Por isso, é preciso investir em um Plano Diretor Regional, que a Secretaria de Desenvolvimento Urbano invista nisso. Por exemplo, prever se vai duplicar ou não uma avenida, como a Juscelino, por exemplo. Determina-se o recuo e naquela área não se pode construir. O mesmo em uma área determinada para um hospital e escola. Hoje, paga-se um alto custo em desapropriações. Qualquer que joga aqueles jogos de construir cidades sabe que se for aumentar a cidade, precisa aumentar captação de água. Isso serviria até para definir pautas de campanha dos candidatos.
FM – E como está essa questão?
Bellezzo – Falei com o prefeito no mês passado e ele disse que, em 90 dias, haveria um estudo para esse plano, e em 180 dias o plano seria entregue. Mas, é complicado, assim como a questão de debater o trevo do Rodoanel. Não há interesse.
FM – E a construção do Rodoanel, ajudaria a região e o Pólo?
Bellezzo – Tivemos uma reunião no Ciesp nesta semana que foi literalmente um fiasco. Um engenheiro falou, falou. Na hora de debater, as perguntas de três segundos tinham resposta de dois segundos. Guarulhos foi seccionada a um quadrilátero, agora, com Rodoanel, Dutra, Trabalhadores e Fernão Dias. Há Guarulhos em todos os lados, mas sabe quantos retornos do Rodoanel teremos? Nenhum. Hoje, saímos daqui e para irmos ao outro lado da Dutra, em um cliente, o que era 200 metros, vira 18 quilômetros. Qualquer transposição de um lado para outro, a ANTT impede. O município fica de mãos atadas. Estamos ilhados aqui e será pior porque temos de passar por vias regionais dos bairros. É preciso ver o que Guarulhos ganha com o Rodoanel.
FM – Em relação ao Trevo de Bonsucesso, o que já foi pleiteado?
Bellezzo – Falar do trevo é chover no molhado. Todos sabem o que há de errado e que está errado. Se perguntarem o que falta, direi que falta tudo, menos projeto. O que mais tem nessa cidade é projeto e estudo. Na hora de se efetivar as ações, vale a lei do quem chora mais. Cumbica, que tem uma associação mais influente politicamente, por exemplo, recebeu 23 ruas asfaltadas pelo Programa de Aceleração do Crescimento. Nós? Nenhuma.
FM – Sua empresa (onde foi feita a entrevista) fica na Rua Landri Salles e não tem asfalto. Como é lutar pela associação e ver isso acontecer?
Bellezzo – É isso que expliquei. Essa via é uma das importantes ligações entre Dutra, Trabalhadores e o Jardim Aracília, e a Prefeitura diz que não tem condições de asfaltar. É um trecho de só 600 metros. A explicação e a promessa são sempre de que vão asfaltar. Disseram que em junho encerra em Cumbica e começaria em agosto aqui. Agora, basta saber agosto de quem. Por isso, faço questão de fazermos nossas reuniões até com gente da Prefeitura aqui na empresa, para que também pisem na terra. Poderíamos fazer as reuniões da associação no auditório da Oderbrecht, mas fazemos aqui.
FM – Como o senhor analisa a municipalidade?
Bellezzo – Eu a vejo completamente engessada. Não existem conversas entre os setores. Eles se reúnem, mas não conversam nas ações. É só pensarmos que temos profissionais competentes na Secretaria de Desenvolvimento Urbano, que acabam fazendo despachos menores, e chega a Secretaria de Trânsito e faz. Costumo dizer que não é o grande que engole o pequeno e, sim, o rápido que engole o lento. Tudo está muito subdividido e confuso e técnicos competentes estão subordinados a pessoas apadrinhadas pelos partidos. O PIB do Polo é muito alto, pagamos alto impostos e não recebemos isso de volta.
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