O PT reuniu um tripé sólido em sua organização inicial.
Juntou o movimento sindical, com forte participação do sindicato dos
metalúrgicos do ABC, as CEBs (comunidades eclesiais de base da igreja católica)
e grande parte da intelectualidade de esquerda e artistas do país. Essa junção
foi responsável por garantir ao PT uma representatividade social muito maior do
que qualquer outra agremiação política partidária já constituída no Brasil
Mesmo com toda essa densidade, Lula – maior responsável por
unir o tripé fundador – teve que disputar quatro eleições para levar o PT ao
centro do poder nacional. Para vencer as eleições, o PT suavizou o discurso,
aderiu ao financiamento privado de campanhas e flexibilizou a política de
alianças.
Em 2002, Lula teve como vice: José Alencar, um empresário do
ramo têxtil de Minas Gerais, filiado ao PR. Esse era o recado claro para a
sociedade: “o PT não iria romper com o estado de direito estabelecido até então
e manteria a ordem social”.
Durante a transição de governo, foi escrita a “Carta aos
Brasileiros”. Documento que sinalizava ao mercado a manutenção de regras
contratuais e garantias de que não haveria “cavalo de pau” na economia. Além da
carta, a escolha de Henrique Meireles para presidência do Banco Central – ex
presidente do Bank Boston – deixava claro que os rumos da economia caminhariam
para um regime ortodoxo. A dupla Meireles e Palocci (ex ministro da Fazenda)
adotaram no início do governo Lula uma política até então impensada por
petistas e partidos de esquerda. Elevação de taxas de juros, metas elevadas de
superávit primário, foram marcas do modelo político que estaria por vir.
O governo recém empossado tinha forte apoio popular. Os
primeiros seis meses eram determinantes para enviar ao congresso nacional
projetos que modificassem estruturalmente as regras do poder político,
econômico e social. Era o momento mais propício para enviar a proposta de
REFORMA POLÍTICA e iniciar um forte debate com a sociedade, aproveitando o
apoio popular garantido nas urnas, bem como a fragilidade da direita recém
derrotada.
O governo optou por enviar ao congresso nacional as propostas
de REFORMA PREVIDENCIÁRIA e TRIBUTÁRIA. Tais reformas não agradaram boa parte
das bases do PT e dos sindicatos, causando fissuras irreversíveis que
culminaram na criação do PSOL, partido composto por vários ex petistas que
estavam contrariados com as medidas iniciais.
Além de perder a melhor oportunidade histórica para mudar as
regras do sistema político, tais decisões corroboraram para construir uma voz
de oposição à esquerda. Também ficamos fragilizados no debate interno ao perder
vozes e opiniões que faziam o contraponto no debate interno, impedindo a
construção de uma política hegemônica que faz muito mal ao partido.
O reflexo de tudo isso foram os processos que vieram nas
eleições de 2006, 2010 e 2014. Em 2006, Lula não venceu a reeleição no primeiro
turno devido ao desgaste causado pelo “mensalão”. Em 2010 tivemos que enfrentar
dois turnos, tendo que lutar novamente contra o tal mensalão para eleger Dilma.
Em 2014, novamente em eleição de dois turnos, a pauta era o mensalão e os
escândalos na Petrobras. Não é preciso ser um gênio para compreender que todas
essas dificuldades encontradas são decorrentes da escolha em manter as antigas
regras do sistema político eleitoral.
A política é cruel e não perdoa erros. Costumamos dizer que
oportunidades na política é um cavalo selado que passa apenas uma vez na vida.
Esse cavalo passou em 2003 e o núcleo político do governo Lula não quis montar.
Se houvesse a aprovação do financiamento público naquela ocasião, não
estaríamos hoje nas cordas do ringue político. Não há horizonte no curto prazo
para que possamos reagir. Vivemos uma correlação de forças extremamente
desfavorável. A atual câmara dos deputados é a mais conservadora dos últimos
doze anos. As instâncias do PT demoram uma eternidade para se movimentar devido
à avalanche de denúncias. O atual governo não tem disposição pelo diálogo. O
núcleo político está desorientado, sem rumo e sem discurso.
Cabe a militância, aos movimentos sociais, aos sindicatos,
enfim, a base do PT, manter a pressão organizada para fazer com que o governo
mantenha as conquistas adquiridas ao longo dos últimos anos. Cabe a militância
continuar pressionando os nossos dirigentes para que reajam mais rapidamente
aos ataques que sofremos. Cabe a militância reorganizar a participação popular
nos movimentos sociais. Se quisermos sair
das cordas e retornar aos braços do povo, o governo terá que aprender a politizar
a execução das decisões tomadas. É preciso se comunicar melhor com o povo. Não
adianta apenas realizar obras, implantar políticas sociais, garantir o
desenvolvimento econômico se não disputar a consciência popular.
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